Entrevista para Revista ECOLÓGICO
O holandês Robert Happé, de 66 anos, nasceu em Amsterdã, em plena Segunda Guerra Mundial. Ainda bebê, perdeu os dois irmãos, o lar e a mãe, que desapareceu depois da tragédia provocada pelos bombardeios alemães.
À época, seu pai já havia sido preso pelos soldados de Hitler. Robert foi adotado por uma família. As dificuldades por que passou talvez expliquem sua busca incansável por respostas sobre o verdadeiro sentido da vida. “ Desde o início, busquei a verdade sobre a vida e sobre mim mesmo; queria entender também por que as pessoas se matam e qual a causa de tanto sofrimento no mundo”, declara.
A procura começou aos 16 anos, quando, de mochila nas costas, o jovem Robert saiu pelo mundo, visitando diferentes países, culturas e povos. Através do estudo das religiões e da Filosofia, fez muitas descobertas em sua jornada de quase duas décadas. A principal delas é que “todas as religiões, doutrinas e crenças, em sua maioria, estão tão impregnadas de dogmas, que deixam de cumprir o papel que lhes cabe”. E, ainda, que “o sistema no qual vivemos, com suas visões políticas, planos econômicos e educacionais, é o maior dogma do mundo e não tem qualquer consideração pelas pessoas.”
Em todos os lugares pelos quais passou: Europa, Nepal, Índia, Taiwan, Camboja (onde morou numa floresta durante três anos), EUA e América do Sul, Robert diz ter encontrado amor. “Não existe um só povo que não seja capaz de amar”, confessa. Desde 1987, ele compartilha seu aprendizado em seminários pela Europa, África, Argentina e Brasil. Em 1997, escreveu “Consciência é a Resposta”. No parágrafo final do prefácio, faz um alerta: “Ninguém tem a verdade, mas cada um de nós pode sintonizar-se com a própria verdade e conhecimento e expressá-los à sua maneira. Foi o que fiz e espero que cada um faça o mesmo”. O livro, que trata do despertar da consciência através da cura de nossos medos e da comunhão do amor, já está na nona edição e, o segundo, virá em breve. O trabalho de Robert é independente, desvinculado de organizações religiosas, seitas ou qualquer outro grupo. Para ele, nossa principal tarefa aqui na Terra é nos tornarmos livres, expressando amor, luz e amizade nas relações cotidianas. “ É essa a experiência humana”, afirma.
A Revista ECOLÓGICO acompanhou, no Centro de Educação Espiritual, em Araçoiaba da Serra/SP, uma palestra de Robert para estudantes, empresários e profissionais liberais. O sorriso largo, o abraço afetuoso e um beijo na face são seus típicos gestos de acolhimento. É fácil perceber, logo de início, que a verdadeira expressão do amor, de que tanto fala, está presente ali, naquele senhor forte, alto, de olhos azuis e cabelos grisalhos.
A entrevista que, gentil e amorosamente nos foi concedida durante o seminário, você confere a seguir:
Desde os 16 anos o senhor busca respostas. O que descobriu?
Que as religiões são hipócritas. Vi que t odas elas falam das mesmas coisas, de formas diferentes, umas contra as outras. E que as pessoas buscam uma determinada religião para adorar, sem questioná-la, sem buscar a verdade que há por trás.
Por que decidiu se isolar, viver sozinho?
Estava vivendo uma situação um pouco dramática. Não queria mais saber do ser humano, das emoções, nem da civilização. Cheguei ao ponto de querer morrer. Foi quando enxerguei um outro mundo, muito mais próximo. Fui ao encontro da natureza e descobri que ela tem todos os nutrientes necessários ao crescimento. Decidi, então, ficar na floresta do Camboja para aprender mais sobre ela e sobre mim mesmo. Lá, aprendi muito. Mais que em todos os anos em que estive na universidade.
O que mais vivenciou no Camboja?
Conheci muitas pessoas amáveis, mas também vi muita ignorância, gente vivendo presa a dogmas religiosos. Os monges cambojanos pedem esmolas nas ruas, enquanto podem plantar e comer em seus próprios templos. Essa realidade me entristeceu. Achava que o mais correto seria levar ensinamento e alimento às pessoas, em vez de pedir.
Como foi voltar à civilização?
Não foi fácil. Nos três anos em que estive lá fui muito feliz. Ficaria na floresta para sempre, mas os soldados norte-americanos me encontraram, me colocaram num helicóptero e me deixaram em Bangcoc, na Tailândia. Era a Guerra do Vietnã. Eles tiravam as pessoas dos vilarejos, porque não queriam que ninguém soubesse o que estava acontecendo. Aldeões falaram que havia um estrangeiro na floresta e os soldados foram atrás de mim. Fiquei em Taiwan quase um ano. Depois, Hong Kong. Mais tarde, fui convidado a ir para a Inglaterra, onde comecei a ensinar Filosofia. Foi quando começaram os seminários.
Qual a principal razão de estarmos na Terra?
A vida é uma jornada para descobrirmos quem realmente somos. Só assim encontraremos a verdadeira paz. Uma vez em paz, poderemos criar de acordo com nossa consciência criativa. Isso não é fácil e temos tentado por milhares de anos criar um mundo que seja próspero, onde possamos reconhecer uns aos outros, como divinos e iguais, compartilhando e cooperando. Fico me perguntando por que ainda não conseguimos fazer isso, se somos todos iguais. Queremos amar e ser amados, apesar disso não estar acontecendo. É difícil amar e ser honesto uns com os outros, trocando afeto de forma digna.
Antes mesmo de Jesus, Buda já falava da importância do autoconhecimento. Por que ainda não aconteceu?
Porque as religiões distorcem as mensagens dos mestres e fazem as pessoas viverem na escuridão. Buda e Jesus foram pessoas como nós, mas que compreenderam a importância do autoconhecimento. Jesus sabia que não devíamos escutar a força da economia que nos controla; mas sim, a força do coração. Ele sabia que o amor era o poder maior, por isso, disse : “Amem-se uns aos outros”. Mas as pessoas só se sentem confortáveis adeptas às religiões, como se com isso se sentassem na primeira fila, mais perto do céu.
Por que a solidão nos incomoda tanto?
Porque somos nervosos e fomos programados assim. Se nossas escolas nos ensinassem a ficar bem sozinhos, para termos mais confiança em nós mesmos, sabendo que estamos aqui na Terra para criar coisas bonitas, tudo seria diferente. Mas nos programaram só para aprender matemática, história, geografia, etc. Quando saímos da escola, não sabemos mais como criar. Se as crianças tentam criar, os professores as desencorajam, dizendo que elas precisam seguir o padrão de ensino deles. É um controle para que não acordemos. Está tudo errado. Passamos muitos anos na escola, aprendendo coisas que nunca iremos usar. Quanto à oportunidade de criar, essa é negada.
Como usar nossa força criadora sem degradar mais o planeta?
A degradação humana e ambiental vai acabar, porque a luz está se ampliando. Algumas pessoas usarão essa luz para transformar seus medos em amor. Outras ficarão com mais medo ainda e não suportarão a luz. Então, haverá a separação entre a luz e a escuridão. Nosso mundo vai se dividir em dois, ficando uma parte na terceira dimensão e outra, espiritual, na quarta dimensão, em níveis mais elevados.
Como distinguir se estamos na luz ou na escuridão?
As pessoas que controlam coisas e pessoas estão na escuridão. As amorosas, na luz. Simples assim. Há também aquelas que têm luz, mas que estão servindo à escuridão, porque estão dominadas pelo medo.
Amar é a regra?
Dar amor a todas as pessoas é a nossa maior missão. Dê o seu amor simplesmente pelo prazer em ter o outro aqui neste planeta. Mas faça isso com respeito. Há pessoas que não suportam receber muito amor de uma só vez. Elas podem se sufocar. Então, use sua sabedoria, dando apenas amor suficiente para a evolução do outro, para que ele consiga crescer. Dê amor sem a expectativa de receber. Quem precisa receber é quem está doente. Se você pode dar é porque tem e está saudável.
Qual o principal entrave na hora de doarmos amor?
O medo. Existem pessoas que têm tanto medo, que não conseguem amor e energia suficientes. Essas pessoas acabam roubando nossa energia. Precisamos perdoá-las, perguntando o que querem, do que precisam. Mas nunca permitindo que sejam desonestas e joguem conosco. Se nos comunicamos e nos expressamos dizendo do que gostamos e o que sentimos no coração, as pessoas percebem essa clareza e acabam nos dando amor de volta. Todo mundo tem amor no coração. Mas se existe muito medo, ele não funciona. Todas as pessoas com as quais nos relacionamos são uma grande oportunidade para expressarmos amor. Se a pessoa com a qual você se relaciona não consegue expressá-lo, ajude-a, dando seu amor a ela.
Amar plenamente é o caminho?
Amar sem controle. Quando você ama de verdade não tem necessidade de saber o tempo todo onde a pessoa amada está e nem quer controlá-la 24 horas. O que você quer é que ela esteja feliz. Quando as pessoas se amam realmente, o respeito existe e elas sempre voltam umas para as outras. Se ao voltar para casa encontro um amigo de infância, decido ficar um tempo com ele, e digo à pessoa amada que vou me atrasar, ela compreende e não se aborrece. Fica feliz por mim. No amor verdadeiro, há sempre alegria na felicidade do outro.
O que pensa sobre o consumismo exacerbado?
É uma doença criada pela economia, que diz: “Você só vive quando compra”. Os shoppings são a nova igreja. Neles as pessoas se deslocam para adorar e comprar coisas, gastando sem poder. No fim do mês, a comta chega e elas não têm dinheiro para pagá-la. Então, voltam à igreja e compram mais.
Como a humanidade está na escala da evolução espiritual?
Antes, na Era de Peixes, havia segredo. Agora, em Aquário, tudo está aberto. Todos que têm algum conhecimento querem falar. Muitas pessoas já estão começando a enxergar como é desonesto e corrupto o nosso sistema. Mais livres, buscam outras maneiras de viver, se revoltar e denunciar.
O que acha do uso da intuição nas nossas escolhas?
Através da intuição seguimos a direção do nosso espírito. Se você tiver um canal aberto com a sua intuição, ela o levará às coisas certas. Quem usa a intuição tem confiança em si mesmo. Confiante do poder do amor em seu coração e na sua ligação com o espírito, você tem a resposta para tudo e, automaticamente, conecta e expressa a sua verdade. Essa conexão com o coração e o espírito faz com que toda a prosperidade venha ao seu encontro, porque você está sendo criador da sua própria vida.
Essa é uma noção completamente diferente de poder, não é?
Sim. No nosso planeta, o poder está no dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais poder. Isso é uma grande ilusão. Porque um dia, quando todo o sistema entrar em colapso, quem tem apenas dinheiro ficará sem nada, de uma hora para outra. Essa crise mundial financeira que vivenciamos é uma prova disso.
Acredita na encarnação e nas leis do carma?
O que você atrai para a sua vida é consequência da sua criação. Quando você encontra uma pessoa que é má para você, compreenda e não brigue com ela. Pense: “O que eu fiz e preciso mudar na minha consciência para não atrair mais esse tipo de experiência?”. Quando pensamos assim, partimos para uma consciência mais tolerante e amorosa.
Como caminhar para essa mudança de consciência?
Tudo o que nos acontece hoje se relaciona ao nosso passado. O que foi bom no passado é bom agora, o que foi ruim, também é ruim no presente. Devemos mudar com as nossas experiências. Todo encontro é um encontro conosco. Quando você se depara com alguma coisa que não gosta, esse é o momento de se perguntar por que não gosta. O que há de dificuldade em outras pessoas é o espelho das nossas próprias inabilidades, da falta do nosso conhecimento interior. Entendendo isso, responderemos de forma diferente à vida, reconhecendo o que é verdadeiro e o que não é. Precisamos viver com mais responsabilidade e honestidade, para com o próximo e para com nós mesmos, descobrindo que somos divinos. Isso requer atenção e treino.
Há uma causa para os conflitos espalhados pelo mundo?
Hoje estamos no mundo que merecemos. Nossa consciência nos leva para níveis onde nos sentimos confortáveis. Nós ainda não aprendemos o: ‘Amai-vos uns aos outros’ . Aprendemos a cuidar da nossa família e a pensar que o resto do mundo não é tão importante. Mas somos uma só família. O caos em que o planeta se encontra reflete nosso desinteresse pela melhora e é o espelho da falta do amor. Mas esse mesmo caos pode estimular as pessoas à mudança. É um grande empurrão para a humanidade avançar.
Quais são os principais obstáculos para isso?
O medo. Quando criança, temos que fazer o que os outros dizem para não sermos punidos, adquirindo todos os medos: medo da morte, da solidão, do futuro, medo de criar. Totalmente controlados por dogmas e pensamentos falsos, acabamos por expressar medo, ao invés de mostrar ao mundo quem realmente somos.
Você diz que o Brasil é a última esperança do planeta. Por quê?
Na Europa, as pessoas são muito civilizadas e tudo é racional. Os brasileiros expressam mais seus sentimentos, mas também usam a razão. A combinação entre a racionalidade e o sentimento é a formula para despertarmos nossa consciência amorosa. O Brasil é a última esperança. Aqui, a maioria das pessoas tem muita conexão com os sentimentos. Estão mais conectadas com o lado espiritual. Além disso, temos muito cristal no Brasil, que atrai luz. No futuro, muita gente virá para cá, porque teremos alimento e amor em abundância.
Sua última mensagem.
Acredite em si mesmo. A pobreza está dentro da nossa consciência. Quando encontrarmos nossa riqueza interior, deixaremos de ser pobres. É preciso aprender que todo trabalho é um servir ao outro em primeiro lugar. Somos seres criadores e chegamos até aqui para criarmos um mundo melhor.
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