sábado, 11 de fevereiro de 2012

Universalismo




O universalismo vivido bate às nossas portas, querendo unir, de modo fraterno, igualitário e pluralista, os povos, as culturas e os costumes, derrubar bandeiras para proporcionar ajuda recíproca, enquanto outros guerreiam para fixar fronteiras ou para defender qualquer doutrina do “eu sou a verdade”, bairrista e separatista.



Se a tecnologia e a informática unem os povos pelo universalismo, também separam com o belicismo da Era da Eletrônica. O universalismo é supratecnológico e suprapartidário, a partir de um processo natural da evolução, traça uma curva de crescimento impossível de se deter.



É preciso estar atento para as mudanças à nossa volta, aos jornais, revistas, cursos, cinema, teatro, universidades, e quaisquer novidades, para não se estagnar em medo de mudança (neofobia), em relação à qual arrisco uma porcentagem: 90% da humanidade pratica o lema – “o pior cego é o que não quer ver e não se enxerga”.



É de se surpreender à iniciativa pioneira corajosa e histórica de muitas personalidades, que só foram compreendidas décadas ou séculos depois. Caminharam sozinhos contra o fluxo da sociedade patológica, foram criticados, marginalizados, ofendidos e ridicularizados, porque foram mais capazes de enxergar muito além do horizonte, com maior visão de conjunto que seus pares e, por isso, foram incompreendidos em sua época.



Depois do amor[1] fraterno incondicional, o universalismo (àquele inerente) é a coisa mais rara deste planeta, mais difícil, polêmica e incompreendida. A maioria esmagadora de pessoas no planeta que se considera universalista, assim crê sem sê-lo. Qualquer pessoa que se condicione em apenas uma linha de pensamento não é universalista. Você pode participar de uma linha de pensamento sem se condicionar ou se escravisar a ela. Quando você se condiciona, fanatiza-se e vivencia sua plena imaturidade umbilical[2] (subcérebro abdominal).



Devemos ter a compreensão e o respeito pelas diferenças e opções evolutivas de cada um, sem desdenhá-las. Há vários nichos conscienciais, para diversos níveis de consciência, em nosso modesto orbe atrasado, hospital-escola, na beirada da galáxia. A propósito, segundo o Dicionário Aurélio, universalista é: (1) “Opinião que não aceita outra autoridade senão o consentimento universal”; (2) “Tendência para universalizar uma idéia, obra, sistema, etc.”



Ser universalista não significa concordar com as paixões, fanatismos e arrogâncias que proliferam como ervas daninhas por aí. Posso respeitar com razoável impecabilidade mental, mas discordar veementemente e de forma fundamentada. Temos a obrigação de esclarecer e destacar alguns níveis e patamares evolutivos, como exemplo: as pessoas que “acreditam” ou “vivenciam a certeza” da reencarnação e do karma tendem a ser mais lúcidas, maduras e avançadas, do que as que não aceitam esta “verdade”. Mas posso e devo respeitar estes sem desdém, arrogância, sarcasmo, orgulho e vaidade. O universalismo possui um pé no chacra coronário e outro no cardíaco, os dois chacras mais “entupidos” (subdesenvolvidos e negligenciados) do planeta[3].



Universalista é o que não necessita mais ser homo sapiens imitatus[4] ou homo sapiens institucionalis[5], ou seja, aquele que imita mecanicamente sua referência evolutiva, imita sua postura, seu jeito de falar, de escrever e de se comportar (papagaio evolutivo, macaco de imitação), e o segundo, aquele que se limita à única linha de pensamento evolutivo (unidisciplinaridade evolutiva ou uni-evolutivo).



Universalismo é respeitar as verdades relativas ou absolutas de cada um, sem desejar impor a sua visão de mundo como a melhor. Verdade relativa superior é verdade absoluta. Verdade relativa que é eternamente de ponta é verdade absoluta (dogma).



Os despertos são vítimas dos sonâmbulos.

– Samael Aum Weor



As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?



A verdade sem humildade se torna uma caricatura arrogante.

– Mahatma Gandhi



Aproveito para transcrever aqui um artigo do autor Wagner Borges bem pertinente para este momento. O que coincidir com que escrevi antes é mera coincidência, não me baseei em nada dele.



Alguns Toques Universalistas – por Wagner Borges, São Paulo.



Ser universalista significa ter a mente aberta e saber somar as melhores partes do que lê, vê, escuta, sente e aprende numa síntese inteligente e criativa. Da mesma forma, saber filtrar as informações e recusar o que parecer fora dos parâmetros do bom senso e da coerência.



A mente é igual a um pára-quedas: só funciona se estiver bem aberta.



Manter a mente aberta não significa embarcar em qualquer coisa. Respeitar formas de expressão diferentes é valor democrático e ensina a harmonia dos contrários. Porém, respeitar não significa compactuar com valores contrários ao Bem comum. Posso respeitar a opção fundamentalista de alguém, mas continuo não gostando da violência doutrinária oriunda disso. Respeito à opção religiosa diferente de alguém, mas isso não me faz ser simpático a quem quer obrigar os outros a seguir os seus dogmas. Respeito o fanático, mas nada no mundo vai me fazer achar que o cara não é chato demais. Ser universalista não significa não ter opinião.



O maior universalismo que conheço é a assistência espiritual. De que adianta falar de universalismo e freqüentar tudo quanto é lugar e não ter centro algum no coração? De que adianta ir à Sinagoga, na Mesquita, na Igreja, no Templo, no grupo tal ou na natureza, e não melhorar nada como ser humano?



A assistência espiritual não olha rosto, sexo, cor ou condição social ou dimensional. Tanto faz se é encarnado, desencarnado, terrestre ou extraterrestre, todos estão no bojo daquela assistência que não depende de lugar, mas simplesmente de sintonia adequada e esforço, que, inclusive, pode ser feita a partir de casa, em silêncio e sem alarde para o mundo.



Às vezes, o estudante espiritual ganha mais ficando em casa e lendo um livro que eleve sua consciência e o faça refletir em temas magnos, do que freqüentando aleatoriamente diversos lugares. É fato constatado (quem trabalha com público há muito tempo sabe disso na prática) que muitas pessoas freqüentam vários lugares paras fugirem de si mesmas ou de seus ambientes domésticos complicados. Outros vão a diversas reuniões em busca de companhia, pois não suportam ficar quietas ou sozinhas em algum momento. Isso não é universalismo ou espiritualidade: É fuga mesmo!



Não é o fato de alguém freqüentar diversos lugares diferentes que o torna universalista. Universalismo (assim como a espiritualidade) é estado de consciência interno e que independe de doutrina ou condição.



De que adianta freqüentar diversos lugares e não se sentir bem dentro de si mesmo?



Há pessoas que freqüentam muitos lugares e se arrogam de universalistas por isso. Porém, muitas delas brigam frequentemente e provam na prática que o seu temperamento não é nada universalista. O Universalismo leva a pessoa a sempre ampliar o seu círculo de amizades e a diminuir a acidez emocional tão característica de quem precisa se harmonizar primeiro consigo mesmo.



Quanto maior o Universalismo, maior o nível de lucidez do projetor. Quanto maior o nível de amor em seu coração, melhor o nível de sua assistência espiritual. Logo, uma coisa é básica: pelo nível de assistência consciencial que uma pessoa manifesta pode-se verificar claramente o nível de sua consciência. É que suas energias sempre estarão limpas e estuantes. E são elas que demonstrarão o grau de universalismo de alguém. De que adianta ir a vários lugares e portar energias pesadas?



É essencial que as pessoas tirem um tempo para ler mais e mexer mais com as suas energias em casa. O tempo em que alguém que já estuda (muitas vezes só teoricamente e nunca colocando em prática o que aprende) leva para ir até algum lugar, é o tempo em que ela poderia estar colocando em prática em casa o que já aprendeu.



Muitas vezes, a pessoa que já tem certo estudo espiritual perde tempo num ritual(1) em algum canto onde as pessoas estão por não saberem dominar suas próprias energias. Nesse tempo ela ganharia muito mais se estivesse trabalhando suas energias e consciência em casa, principalmente se estivesse engajada em algum trabalho de assistência extrafísica. Nada contra o ritual e quem precisa de um ou de sua egrégora (muitas vezes extremamente útil, dependendo do contexto e da intenção do grupo), mas ainda fico com os ensinamentos dos rishis (sábios) da antiga Índia: “De que adianta acender o fogo fora de si mesmo e só queimar a madeira e dançar em volta da luz bruxuleante das chamas? Mais vale queimar as tolices no fogo do discernimento e dançar com o coração livre das labaredas emocionais da raiva.”



Quantas pessoas que se dizem universalistas só porque vão a lugares diferentes, são incompetentes para prestarem ajuda espiritual ao mundo? E quantas continuam saturadas de medo?



Muitas pessoas se agarram a mestres e doutrinas. Outras a egolatria ou autolatria. Porém, quando os amparadores vão tirá-las do corpo para “ralar” extrafisicamente na assistência espiritual, cadê o nível delas? E se as energias de alguém não são úteis espiritualmente, de que adianta ir a algum lugar?



Se alguém irradia energias conscienciais de sua casa em silêncio e ajuda a muitas pessoas que sequer conhece, ela é mais universalista do que aqueles que vão a muitos lugares e sequer dominam suas energias, muito menos as exteriorizam para a humanidade.



Outro dia, uma amiga minha fez a caminhada de Santiago de Compostela. Voltou de lá entusiasmada e pareceu bastante melhorada em vários aspectos. Se foi o lado psicológico ou alguma mudança energética, não sei. Porém, dias depois ela voltou ao nível anterior. Pois é, o contato diário com as pessoas e as dificuldades da vida não são aprendidos em caminhadas ou comunidades, grupos ou institutos algum, seja de onde for. E a espiritualidade só é alcançada como estado de consciência íntimo nos caminhos da vida.



Outro detalhe disso: a minha amiga irá fazer nova caminhada por lá e convidou-me para ir junto. Respondi para ela que ganho muito mais numa simples projeção do que numa viagem dessas. Ela chamou-me de radical e de não ter universalismo e que a peregrinação pelo Caminho de Santiago transforma a pessoa. Bom, estou torcendo para que ela venha dessa nova viagem realmente transformada e que sinta-se muito bem permanentemente. Enquanto isso, vou seguindo pelos caminhos da projeção e da espiritualidade por aqui mesmo, sabendo na prática que isso tudo é estado de consciência e que independe de lugares ou de qualquer outra coisa.



Viajar pelo céu do coração é mais valioso do que ir em qualquer lugar. Quem possui o discernimento correto sabe que pode ir a qualquer lugar, pois o TODO está em tudo. Mas sabe, acima de tudo, de que o principal está em si mesmo, no que pensa, no que sente e no que faz.



Não é necessário que você vá procurar um mestre para lhe ensinar o “Amai-vos uns aos outros”. Alguém muito melhor já fez isso há dois mil anos atrás.



Há espíritos de Umbanda que aparecem para mim há anos e nunca me pediram para realizar ritual algum. Há xamãs extrafísicos que me passaram diversos ensinamentos sobre manipulação de energia, mas nunca me pediram para ir batucar em algum lugar da natureza. Há hindus que aparecem frequentemente, mas nunca me pediram para fazer qualquer oferenda ou submeter-me a algum ritual védico, por exemplo.



O que eles têm me ensinado é que o amor é o grande lance e que é preciso cada vez mais desprender-se das tolices conscienciais apresentadas na manifestação diária. E também a arte de ser canal espiritual sadio entre as pessoas.



É preciso meter a mão (e a paramão) na massa (e na paramassa) do serviço prático a favor da humanidade. Cada um do seu jeito, dentro das condições existenciais pessoais e intransferíveis. Não há maior forma de Universalismo do que ajudar os outros de alguma maneira, seja em casa, na rua, no trabalho ou em algum grupo. Falar de Universalismo é muito fácil, meter a mão na massa do serviço é que complica.

Ramakrishna (do qual muitos falam sem ter convivido com ele para saber realmente como ele era) experimentou muitos caminhos como experiência e viu que o Divino está em tudo. Mas, no fim ele mesmo dizia que o mais importante era o amor em ação, mais do que qualquer caminho. Além disso, ele não serve de referência para a massa comum (da qual faço parte também e da qual não me afastei e é onde tenho a maior parte dos meus amigos e com os quais brinco de monte), pois o seu coração era puro amor. Por isso ele não via malícia em nada e via o Divino em todos e em tudo. Um cara assim é raro no mundo e podia caminhar por todos os lugares e tendências, pois o seu amor lhe garantia o nível necessário para não ser corrompido. Ele era simplista e sábio num só.



Ou seja, Ramakrishna era bem diferente de todos nós, que caminhamos ainda com dificuldades e ainda precisando de várias provas no caminho para alcançarmos um nível pelo menos razoável.



Para as pessoas mais jovens é sempre bom ir a lugares diferentes e sempre filtrar todas as informações. Ir de mente aberta, mas com o discernimento a todo vapor.



Para os mais veteranos e que já passaram por tantos lugares e condições, fica a pergunta se não seria mais interessante aplicar na prática tudo o que já aprenderam? Ou se seria interessante ler mais e praticar mais em seu tempo livre, ou ir a algum lugar diferente só para dizer que é universalista?



E que Universalismo é esse que permite ir a tudo quanto é lugar, menos ao interior de si mesmo?



Que cada um procure refletir profundamente se sua busca espiritual atual não é apenas o reflexo de suas tendências anteriores nos mesmos caminhos.



Sempre que estou perto do mar ou de um ambiente de natureza projeto-me facilmente. Nesses ambientes as energias do duplo etérico(2) ficam mais soltas e facilitam em muito as projeções. Sei que é assim também com diversos outros projetores. Porém, se vivo na cidade poluída e violenta e mesmo assim ainda consigo projetar-me razoavelmente no inferno urbano, isso só demonstra que o potencial não está na natureza, mas em mim mesmo. Portanto, recarregar-se na natureza é fantástico e só faz bem. Mas, o nível consciencial é aferido não no paraíso, mas no inferno, onde não há a natureza de fora e o que manda mesmo é a natureza de dentro. Universalismo é portar a natureza do Bem no próprio coração e ser útil, em casa e na rua, na Terra e além…



Não se engane: quando você está estudando seriamente a sua mente projeta automaticamente as formas-pensamento compatíveis com o teor de sua leitura. Logo, os amparadores podem usá-las para trabalhos de assistência extrafísica, mesmo que você nem saiba disso.



Não se engane: as maiores desobsessões são realizadas em silêncio. A transformação de alguém não faz barulho, da mesma forma que o nascer do sol também não é ouvido.



A transformação do ser de ferro enferrujado de defeitos em ser de ouro vivo demanda tempo e esforço. É um trabalho de ascensão gradual, verdadeira alquimia interior. Refere-se principalmente a extirpar as tolices do ego de dentro de si mesmo e encarar a realidade de frente e sem subterfúgios de qualquer natureza. Significa ser possuído por um amor que não se sabe de onde vem e de que forma ama. O Amor Que Ama Sem Nome é o verdadeiro Universalismo.



Ser universalista significa viver de mente e coração abertos respeitando a tudo e a todos. Mas também significa usar o discernimento, o amor e a luz para saber filtrar as coisas, pois muitas vezes o que parece bom pode esconder objetivos escusos bem camuflados e o que muitas vezes não se valoriza pode ser muito interessante.



Ensinamento de Paramahnsa Ramakrishna: “Medita em Deus, seja num lugar escuro, na solidão dos bosques ou no santuário do teu coração.”



Paz e Luz.



- Wagner Borges (sujeito com qualidades e defeitos, que não é mestre nem de si mesmo; então, como será dos outros?) – São Paulo, 19 de fevereiro de 2002.



Notas: 1. Há muitos grupos que trabalham espiritualmente muito bem se utilizando de rituais variados dentro da egrégora (campo psíquico resultante de um agregado espiritual sadio) evocada e dos amparadores e mestres que lhes dão sustentação espiritual. Nesses grupos exterioriza-se uma energia fantástica para assistência espiritual e para finalidades extrafísicas diversas (por exemplo: rituais rosacruzes, umbandistas, ocultistas ou hinduístas).



O que estou comentando é sobre as pessoas que se prendem a diversos rituais e se dizem universalistas só por isso. E também sobre as pessoas que adoram escorar-se num ritual, não para ajudar a humanidade espiritualmente, mas porque estacionaram numa dependência psíquica profunda que não lhes permite mais prescindir dele e vibrar suas energias individualmente. Ou melhor, sobre as pessoas que tornaram-se vampiras psíquicas de algum grupo ou ritual e bloquearam os seus próprios potenciais espirituais, que, inclusive, poderiam estar ativados e contribuindo sadiamente dentro do trabalho que escolheram participar, pouco importando a linha espiritual escolhida, pois o TODO está em tudo!



Tenho muitos amigos que participam de rituais diversos dentro de grupos diferentes, mas todos eles são muito competentes energeticamente a nível individual e sabem manipular bem as suas energias em qualquer contexto. Participam de rituais como forma de colaborar dentro da linha espiritual com a qual se afinizam e ajudar o mundo somando suas energias naquele contexto que mais lhes agrade. E fazem um trabalho excelente.



Resumindo: o meu comentário refere-se exclusivamente àqueles que estão atolados psiquicamente em algum ritual e não estão crescendo com isso, mas, pelo contrário, estão vampirizando as energias que deveriam estar sendo direcionadas por aquele trabalho para o benefício da humanidade. Universalismo sempre lembra soma de informações criativas. Vampirismo sempre lembra obsessões e drenagem de energia alheia.

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